quarta-feira, 2 de março de 2016

Alfredo Piatti - 12 Caprichos para Violoncelo Solo, Op.25

Alfredo Piatti


Alfredo Piatti nasceu em Bérgamo em 1822. Seu pai, violinista e maestro, lhe deu as primeiras lições de solfejo e violino mas, pela insistência do filho, começou a estudar violoncelo com Zanetti, um velho parente. Seu dom precoce foi rapidamente percebido,e seus progressos fez com que seu pai entrasse em contato com Merighi, que era o maestro do Conservatório de Milão, que admitiu a entrada de Piatti. Com 16 anos ja fazia recitais em Viena e Paris. Em uma ocasião, tocou com Franz Liszt em Munique, cuja generosidade contribuiu para que Piatti comprasse um violoncelo melhor (Nicolo Amati).

Fez turnê por vários países e tocou com vários grandes músicos e compositores: Felix Mendelssohn na Inglaterra, Russia com Theodor Dohler, por exemplo. Em 1846 se estabeleceu em Londres, onde foi nomeado primeiro violoncelo da Ópera Italiana e professor da Academia Real. 

Existe um boato da época que dizia que ele tocava com pouco vibrato, deixando para usar apenas nas passagens puramente apassionatas (apaixonadas). Formou alunos como: Haussmann, Becker, Whitehouse e Stern. Fez parte de um dos quartetos do violinista Joachim. Morreu em 1901, na Itália. 

Entre suas várias composições que sobreviveram, como suas variações sobre o tema da ópera Lucia de Lammermoor, a sua Mazurca sentimental para violoncelo e quarteto, seus três concertos e várias outras pequenas peças, vale lembrar de sua principal obra musical e pedagógica: Os 12 Caprichos para Violoncelo Solo, Op.25. 




Os caprichos foram compostos em 1865 e publicado pela primeira vez em 1874,e não serviam apenas como peças de estudo necessário para desenvolver o virtuosismo, mas também como peças de concertos, assim como Piatti usava com frequência em seus recitais.  


Capricho No.1: Allegro quasi Presto



O capricho moto-perpétuo em sol menor combina cordas duplas na mão esquerda e arco na ponta ( sulla punta d'arco), com mudanças de corda. Como Whitehouse sugere, para realizar esse capricho, a região do arco deve estar localizada quase em ponticello (em cima do cavalete) nas cordas, e deve ser executado com uma certa liberdade de tempo (rubato). 

Na mão esquerda, o capricho exige força e flexibilidade dos dedos. É um verdadeiro desafio para a execução das cordas duplas que, apesar de serem executadas separadamente no arco, sugere-se que estude juntas, para facilitar na afinação e nas formas que a mão terá que produzir.

Na mão direita, a mudança das cordas na ponta irá exigir do violoncelista grande resistência. São duas páginas de troca de cordas sem pausas, sem variações. A variedade de dinâmicas contidas nesse capricho possibilita ao executante adquirir o pleno domínio de executar na ponta do arco com troca de cordas. Deve-se ficar atento e alerta para evitar a todo custo a tensão do braço direito. O estudo lento e atento irá evitar possíveis lesões e dores. 

Capricho No.2: Andante Religioso



Esse capricho, em Mi bemol Maior, desenvolve através de melodias lentas e polifônicas, a força da mão esquerda (principalmente o quarto dedo) bem como a intensa mudança de cordas da mão direita, observada na parte B (compasso 27 em diante). Desafios a partes podem ser notados na coda, onde há uma intensa passagem na posição do polegar, e os últimos compassos em pianíssimo na corda dupla (um desafio para a mão direita). As dificuldades não mão direita basicamente, é sustentar em um tempo lento, as melodias em corda dupla, executando ainda as dinâmicas e os legatos existentes. 

Capricho No.3: Moderato



Esse capricho em Ré menor, é o primeiro em que Piatti trabalha em uma corda dupla especifica: terças e oitavas na posição do polegar. O maior desafio para a mão esquerda é manter juntamente a afinação e a resistência. A estrutura da melodia, contida nas oitavas, é o material a ser estudado e fixado primeiramente na mão esquerda. Na mão direita, é importante diferenciar os três tipos de arcos contidos no capricho: legato, detachet e acordes. 

Capricho No.4 - Allegreto-Poco meno-Allegreto come prima





O capricho no.4 em ré menor evoca o gênero composicional scherzo (brincadeira em italiano). A principal dificuldade do capricho a alternância entre cordas duplas e os acordes na mão esquerda. O controle e a agilidade da mão direita são bem trabalhadas e exigem o controle das mudanças entre os golpes de arco detachet, legato, stacato e as mudanças de cordas, principalmente em acordes. 

Capricho No.5 - Allegro Comodo



O capricho no.5 introduz e desenvolve novos desafios para a técnica de arco, incluindo escalas e arpejos com stacatos e ricochetes, e ainda mantêm os desafios e as características da mão esquerda dos caprichos anteriores. Certamente a alternância entre o legato seguido do stacato coloca o capricho na categoria dos caprichos mais desafiadores e também em uma das peças mais virtuosas do repertório violoncelístico. 

Capricho No.6 - Adagio Largamente

 


O principal desafio do capricho é combinar a afinação, devido a tonalidade (La bemol maior) , com a beleza da melodia em arpejos. Ainda sim temos a técnica da alternância entre o legado com mudança de cordas e o stacato do capricho anterior. 

Capricho No.7 - Maestoso




Nesse capricho, Piatti basicamente trabalha a prática de mudança de cordas combinadas com acordes fixos na mão esquerda, também exigindo bastante resistência do braço direito pelo fato do cellista ter de manter o moto perpetuo das mudanças de cordas durante todo o capricho. Vale lembrar que todas a exigências da mão esquerda são observadas também neste capricho (força e flexibilidade). 


Capricho No.8 - Moderato ma energico



Esse capricho em la menor demanda e desenvolve bastante energia para o executante, porque trabalha a combinação entre a articulação dos trinados na mão esquerda com acordes, e articulação da mão direita, mixadas entre o legado, stacato, acordes e mudanças de cordas. 

Capricho No.9 - Allegro



No capricho No.9 em ré maior, Piatti cria um golpe de arco bem original, que combina o golpe de arco spicato, com o stacato com o arco para cima. Na mão esquerda, as cordas duplas, como de costume nos outros caprichos, também aparecem aqui. 

Capricho No.10 - Allegro deciso



O capricho no.10 em si menor trabalha a posição do polegar em praticamente todas as regiões do cello e, na mão direita, trabalha com o combinação extremamente difícil de executar entre o legato para baixo e, em seguida, o stacato para cima. 

Capricho No.11 - Adagio, Allegro, Adagio




Nesse capricho, Piatti cria uma ilusão para o ouvinte, que parece estar escutando 2 violoncelos tocando. Basicamente, a técnica trabalhada são as cordas duplas constantes na mão esquerda, e as melodias em legato produzidas pelo arco. 

Capricho No.12 - Allegretto Capriccioso



O capricho no.12 é considerado o mais difícil e mais desafiador. Ele combina quase todas as técnicas contidas nos caprichos anteriores, tanto para a mão direita quanto para a mão esquerda. Além das técnicas citadas anteriormente, na mão esquerda Piatti trabalha com o falso harmônico, bem conhecidos pelos violoncelistas no concerto de Saint-Saens em La menor, 3º movimento, e no concerto de Shostakovich em Mi menor, 2º movimento. Na mão direita, como já visto nos caprichos 5 e 8 por exemplo, o principal desafio é combinar o stacato com os acordes simultâneos.

Boa leitura! 

Fonte: Um Guia Pedagógico e Técnico dos 12 Caprichos para Violoncelo Solo, de Alfredo Piatti, Autor: Matthew Ryan-Kelzenberg, Arizona State University,2009.