segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A Escola Italiana do Violoncelo nos Séculos XVII e XVIII - Boccherini e Alborea (Parte 2)

Boccherini, com seus amigos Nardini e Manfredi. 


 

Além dos violoncelistas citados anteriormente, resolvi separar um capítulo a parte para falar dos dois principais violoncelistas italianos do século XVIII e também da história do violoncelo: Francesco Alborea e o famoso Luigi Boccherini, que compôs o minueto que a maioria de nós tocamos quando estudamos o Suzuki no.3 e que faria aniversário este mês. Eles foram pioneiros na evolução estética e técnica do cello por toda a Europa. 


Francesco Alborea


O genal violoncelista genovês, conhecido em toda Europa pelo seu apelido Francischiello, nasceu em 1692. Morreu em Gênova, em 1770, aos 78 anos. Foi responsável por elevar o violoncelo a um nível até então nuca visto. Não sei conhece composições suas, mas se sabe que foi um dos primeiros violoncelistas a usar o polegar da mão esquerda (capotasto) de forma frequente. Teve influencia direta na formação dos violoncelistas franceses Barrière, Berteau, fundadores da escola francesa, e principalmente de Jean-Pierre Duport. Barrière permaneceu estudando com Francischiello durante três anos em Roma. Berteau, que era um gambista reputado, abandonou sua gamba para dedicar seu talento e energia ao violoncelo, depois de ter ouvido uma apresentação de Francischiello. Jean-Pierre Duport, um dos melhores alunos de Berteau, ficou maravilhado com uma apresentação de Francischiello fez em Nápoles, no ano de 1764, quando Francischiello atingia a idade de 70 anos. Francischiello quando jovem, viajou pela Europa (França, Alemanha, Áustria), conquistando a admiração de importantes colegas, como Scarlatti, Quantz, e, sobretudo o violinista e compositor Geminiani, com quem teria muito contato. 

Ainda no século XVIII, ao lado de Francischiello, ressalta a figura de Luigi Boccherini



Nascido em Lucca em 1743, é considerado um dos fundadores da escola moderna do violoncelo. Recebeu seus primeiros ensinos com seu pai, que era contrabaixista, continuando sua formação no seminário de bispos de sua cidade natal, com Vanucci, onde aprendeu harmonia e composição. Não era o único da sua família com vocação artística. Sua irmã era bailarina, seu irmão era bailarino e escritor de libretos operísticos. Escreveu livretos para Haydn e Salieri.

Sua família, entusiasmada com o progresso do jovem Luigi e consciente de seu talento, o envia para Roma e, em dois anos, alcançou um nível de virtuosismo impressionante. Quando volta para Lucca, empreende uma viagem com seu pai para Viena, onde se encontra com Haydn, que e fica admirado pela sua técnica apurada e o virtuosismo elegante de suas cadências. 

Apesar do êxito na capital austríaca, pai e filho voltam para Lucca, com a esperança de obter um emprego estável e bem sucedido. A decepção de ambos foi grande, quando se deram conta de que Lucca era muito inferior se comparada com Viena. Depois de vários anos trabalhando como servidor público em um emprego mediocremente remunerado, Luigi decide ir para Turín e Milão juntamente com seu colega Mandrefi, violinista, aluno de Nardini. Consta nas memórias de Luigi, lembranças de vários momentos de descontração a noite onde Luigi se juntava com Nardini e Mandrefi para fazer musica de câmara. Pode se considerar que eles foram os responsáveis pela realização dos primeiros concertos de quarteto de cordas registrados na história. 

O duo Manfredi-Boccherini chega a Paris e busca ser ouvido pela organização celebre de série de concertos chamada Concerts Spirituels, afim de abrir caminhos e oportunidades artísticas na capital. 

A vantagem de conseguir ser convidado pela série de concertos implicava em ser convidado a tocar na mansão dos mecenas de Bagge, cuja casa era frequentada pelas personalidades mais interessantes da vida intelectual parisiense. Apresentados ao editor La Chevardière, conheceram Jean-Pierre Duport, o irmão mais velho dos Duport, e também aos violinistas franceses Gossec e Gavinies. Nesses encontros, fez amizade com Vernier, para quem dedicou vários quartetos, com a famosa cravista senhora Brillon de Jouy, para quem escreveu seis sonatas para violino e cravo, e sem contar La Chevardière, a quem ofereceu seus primeiros trios. O Mercure de France fez uma crítica favorável sobre o concerto deles na Concerts Spirituels, em 1768. O embaixador da Espanha, maravilhado pelo talento do violoncelista, convidou Boccherini para mudar-se para Madrid, onde o colocou em contato com o infante don Luis, irmão de Carlos III.

Na Espanha, apesar de ganhar uma rápida admiração de um modo geral, sua vida teve muitos altos e baixos. Não foi nomeado músico oficial da corte, o que impediu que tivesse um situação econômica tranquila. Durante quase quinze anos, Boccherini atuou intensamente como violoncelista, regente e compositor. Os Seis Quartetos Op. 8 de 1769 e os Seis Quintetos Op. 11 de 1771 são pequenos exemplos de sua produtividade.

Sua amizade com a família Font (excelentes músicos que formavam um quarteto de cordas), lhe deu a possibilidade de compor e testar suas composições até mesmo antes de finalizar. Com eles, Boccherini tocou a maioria dos seus cento e quarenta quintetos de corda. Em 1771 se casou com Clementina Pelicho, mudando-se anos depois para a província de Ávilla, onde adquiriu uma bela morada em Las Arenas. 

Mas as coisas não estavam indo bem para Boccherini, que era um
homem de caráter afável e sincero. A inveja do violinista Brunetti, que fez intriga de Boccherini para o rei Carlos III, suscitou na antipatia do rei e consequentemente, a expulsão de Boccherini do país. Ainda em 1785, morreu sua mulher Clementina. Boccherini ficou viúvo, doente, com cinco filhos para criar e sem emprego. A sorte de Boccherini foi a admiração do rei da Prússia, Frederico Guillermo II, protetor da arte e dos artistas, que lhe mandou uma carta de admiração e lhe ofereceu um cargo importante em sua corte, onde sua função seria compor. Em 1786, desafogou sua situação financeira, onde foi nomeado "compositor de câmara", com um salário de 1000 coronas, e como troca, ele teria que compor uma série de obras de música de câmara. Na Espanha, ainda tinha o reconhecimento de sua genialidade por parte da casa Benavente-Osuna, que disponibilizava para Boccherini uma orquestra de quinze músicos, que realizavam concertos regulares. 

Depois disso, se casou pela segunda vez, com María Porreti, filha de seu amigo Domingo Porreti. Em 1802, cansado e velho, teve que enfrentar a morte de duas de suas filhas. Recusou um convite de Cherubini e Breval para dar aula no Conservatório de Paris, sendo substituído por Bernhard Romberg, onde, em uma certa ocasião, viajou para Madrid para encontrar e admirar Boccherini. 

Vale lembrar que Boccherini foi enganado por anos pelo seu editor Pleyel, que via em Bocchernini uma presa fácil. Enriqueceu nas suas custas, ficando com honorários, não o pagando e muitas vezes pagando atrasado. 

Em seus últimos anos de vida, teve ajuda do príncipe Lucien Bonaparte, que o apoiou como pôde, o contratando para compor e dedicar quintetos para a nação francesa. Também teve peças encomendadas por madame Sophie Gail e o marquês de Benavente, que era apaixonado pela guitarra. 

Antes de morrer, mantinha uma pensão, que permitiu que não morresse em total miséria. Faleceu em 1805, enterrado na igreja de São Justo, em Madrid e posteriormente suas cinzas foram levadas para Lucca, sua cidade natal, em 1927, onde se encontram até hoje na basílica de São Francisco. 

Deixou uma extensa produção: Mais de 400 obras, dentre as quais se destacam 30 sonatas para violoncelo e baixo continuo, quintetos de corda com 2 violoncelos, quase 100 quartetos, quintetos com flauta, oboé e cravo, 12 quartetos com guitarra, sonatas para violino, dois violinos, trios de corda, sextetos, octetos, concertos para violoncelo e diversas obras para a igreja, sem contar as sinfonias, oratórios e cantatas. Por conta da guerra civil, muito de seus manuscritos que estavam com seus descendentes espanhóis foram perdidos. A sorte que temos foi que muita de suas obras foram publicadas em 1851 por Picquot, e em 1879 por Alfredo Boccherini. Hoje em dia, se usa muito o catálogo de Gérard, de 1969. 

Como violoncelista, foi genial, com uma visão moderna e muito avançada do instrumento para a época. Como compositor, pode-se ver um paralelismo para o que estava ocorrendo na época, principalmente Servais. 

Neste mês, comemoramos os 272 anos de nascimento de Boccherini!


Fachada do instituto Boccherini



Boa Leitura!







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